Paulo Bufalo
Outro tema essencial, que afeta diretamente nossas vidas e o nosso futuro, é a questão do abastecimento de água e gestão dos Recursos hídricos. Conforme notícias publicadas recentemente na imprensa, o Consórcio Intermunicipal das Bacias do Rios Piracicaba, Capivari e Jundiai, o chamado Consórcio PCJ, manifestou preocupação com a garantia do abastecimento de água nas cidades da Região Metropolitana de Campinas no próximo ano.
Conforme informou o coordenador do consórcio PCJ, José Cezar Saad, atualmente, a situação dos reservatórios do sistema Cantareira – sistema de represas que controla a vazão dos principais rios da nossa região – é considerada preocupante, com volume em torno de 49,5% da capacidade, quando o ideal para essa época do ano seria de 60%.
Estamos entrando num período de estiagem, que, em condições normais, deverá durar até o final de outubro e início de novembro, quando se iniciam o período de chuvas. Portando, a curto prazo, deve baixar ainda mais os níveis dos reservatórios.
Com as mudanças no regime de chuvas que vem sendo observado ano a ano, em função das mudanças climáticas causada pela poluição e pelo desmatamento na Amazônia, existem sérios riscos que as chuvas do próximo verão não sejam suficientes para recompor os níveis dos reservatórios.
Esse não é um problema novo. Todos lembramos do período da seca entre 2014 e 2015, quando o governo do estado de São Paulo teve de recorrer ao volume morto do reservatório do Cantareira para garantir o abastecimento da região.
Desde então, ano após ano, ficamos torcendo pela colaboração do “São Pedro” para que as chuvas sejam suficientes e caiam nos locais certos. Convenhamos que é exigir muito do santo.
Enquanto isso, não são desenvolvidas políticas de uso racional da água, de contenção dos desperdícios e conscientização. As saídas apresentadas, de construção de barragens na região, não resolvem e agravam o problema, uma vez que criam impactos ambientais permanentes, representam riscos de rupturas e tragédias, além de usar a mesma fonte do Cantareira, ou seja, continuamos dependendo da “boa vontade” de São Pedro.
Portanto, desenvolver políticas de conservação e uso racional dos recursos hídricos, defender o meio ambiente, combater que se “passe a boiada na legislação de proteção ambiental” são saídas mais baratas e eficientes do que obras caras, de eficácia duvidosa e de interesse de poucos.
O problema não se resume a nossa região. A dependência do regime de chuvas, que com o crescimento desmedido do desmatamento é cada vez mais incerto, tem levado os reservatórios das grandes hidrelétricas do país ao limite, colocando em grave risco o abastecimento de energia e mesmo o fornecimento de água em áreas densamente povoadas, o que poderá se configurar em uma tragédia sem precedentes.
Também é preocupante a aprovação da Lei Federal 14026/2020, que estabeleceu o marco regulatório no saneamento básico e abriu a porteira para a privatização do setor. Com isso, não será de se estranhar se, em caso de crise no abastecimento, o setor privado seja apontado como salvador da pátria.
O mesmo acontecerá com a anunciada privatização da Eletrobrás. O Brasil será um dos únicos países de mundos a abrir do controle da produção e distribuição de energia.
Como a história registra, serviços privados priorizam o lucro, encarecem o serviço, não investem em soluções de longo prazo e só atendem quem pode pagar por eles.
Apagões, como ocorreu no Amapá, onde a energia é gerenciada por uma empresa privada, deverão ser mais constantes, uma vez que a lógica de gerar lucro de curto prazo para acionistas não é compatível com planejamento, investimentos de médio e longo prazo e atendimento das necessidades do povo. Obviamente que a situação no Amapá foi resolvida com intervenção da Eletrobrás.
Publicado no site Carta Campinas