O investimento em infraestrutura das periferias e a preparação da estrutura existente para o cenário de mudança climática é fundamental para evitar tragédias de grandes proporções no período das chuvas. Esse foi o apontamento do professor Celso Santos Carvalho durante a quinta reunião da Comissão Especial de Estudos (CEE) da Câmara Municipal de Campinas para analisar e propor intervenções, projetos, obras e políticas públicas para combate de alagamentos, enchentes e inundações.

Carvalho, que que também engenheiro civil, mestre e doutor em engenharia pela Escola Politécnica da USP, ex-diretor do Ministério das Cidades (2005 a 2014) e membro da coordenação nacional da Rede BrCidades, apontou a existência de uma divisão social nas estruturadas cidades e, no entanto, são inadequadas.

Uma parte, às áreas centrais e onde vive a população mais rica, que conta com uma infraestrutura urbana que é inadequada para o novo quadro climático. “É uma estrutura ultrapassada, com impermeabilização do solo, canalização dos córregos e sem um sistema de drenagem das águas de chuva. Esse modelo potencializa inundação nas partes mais baixas”, comenta.

Por outro lado, as áreas de periferia não contam com qualquer tipo de estrutura, ou quando existem, são precárias e insuficientes, com condições precárias de moradia, falta coleta de lixo, e varrição. Nessas áreas as águas de chuva correm pelas ruas, invadem casas, potencializam deslizamentos. “Essas áreas vulneráveis precárias sofrem mais com os efeitos climáticas. É preciso destacar também que as inundações são de águas de esgotos. Sempre após as inundações, temos sérios problemas com surto de doenças”, observa Carvalho.

Para o especialista é necessário o desenvolvimento de novos conceitos de estrutura urbana, que retenha a água das chuvas para retardar a   chegada às áreas de baixada, diminuir volume e velocidade. “O atual modelo transfere inundações da parte superior para a parte inferior”, constata.

O professor Celso observou ainda que as novas obras devem pensar em equipamentos como pequenos reservatórios junto a boca de lobos e caixas de retenção, aumentar a infiltração de água de chuva no solo, com a construção de jardins de chuva e parques públicos. “Precisamos de uma cidade mais arborizada que diminui as ondas de calor e de um programa de urbanização e implantação de infraestrutura na periferia, com condição nas condições de moradia” afirmou.

Também foi apontado na reunião a necessidade de adequar legislação municipal a realidade das ondas de calor e chuvas mais intensas. “Exigir nos projetos de obras que contemplam a construção de micro reservatório nos condomínios, grandes terrenos, estacionamentos e exigir orçamento para programas de moradia, romper com a lógica do mercado imobiliários”, comenta. “Isso demanda recursos e investimentos públicos. É preciso rediscutir o orçamento no Brasil”, analisou.

Para o presidente da CEE, vereador Paulo Bufalo (PSOL) os apontamentos do professor Celso Santos Carvalho, contribuirão para as propostas e serem apresentadas no relatório final da comissão e inclusive basear as novas reuniões. A sexta reunião da CEE será realizada na próxima quarta-feira, dia 27, às 15h, com a presença do Secretário Municipal de Infraestrutura de Campinas, Ernesto Paulela.

Também participou da reunião o relator da CEE, vereador Cecílio Santos (PT).

O vídeo com a integra da reunião pode ser visto no link abaixo

https://youtu.be/dRL04_aNcbc