O patrimônio histórico e cultura do parque ferroviário de Campinas não envolve apenas as edificações, mas todo espaço envoltório do local, inclusive os espaços vazios. Esses foram os apontamentos feitos pelos arquitetos Luiz Claúdio Bittencourt, Luiz Antônio Aquino, o Toka e pela historiadora e membro do Conselho Municipal de Políticas Culturais Sônia Fardin durante reunião da Comissão Permanente de Cultura da Câmara realizada na terça-feira, dia 12.
A discussão ocorre em consequência da decisão do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Campinas (Condepacc) ter aprovado uma revisão das resoluções de destombamento de uma parte do parque ferroviário para implementação de projetos imobiliários.
Os argumentos apresentados pelos especialistas contrapõem a justificativa da Prefeitura para o recente destombamento de áreas do pátio ferroviário com vista à implementação de projetos imobiliários no local. A área que foi destombada fica dentro do pátio ferroviário e não tem construção.
A reunião teve a presença da secretária municipal de Cultura, Alexandra Capriolli, que apresentou o pré-projeto da prefeitura com a delimitação onde são pretendidos os projetos imobiliários. A secretária observou que o projeto é desenvolvido pela Emdec e que ela não poderia oferecer informações mais precisas sobre o que se pretende construir no local.
Para o arquiteto Luiz Claúdio, não se pode falar na existência de vazio, pois toda a área faz parte de conjunto arquitetônico. “Ali é mais do que um pátio ferroviário, é uma área que compõe a cultura ferroviária de Campinas. Isso compõe a memória, talvez a mais importante e que tem mais integridade”, argumentou.
Para Sônia Fardin a criação do parque ferroviário foi um projeto de setores ligados à memória e cultura da cidade e que não se pode apagar com canetada “Isso tem implicações históricas, geológicas culturais. Agora a prefeitura traz uma decisão sem debate prévio do projeto, legitima um projeto que não foi debatido. Soubemos pela imprensa que tem projetos consolidados para construção naquela área”, protestou.
Em sua fala, Luiz Antônio Aquino também observou a importância dos espaços no complexo arquitetônico. “Alguém pode imaginar o local sem esses espaços?”, questionou. “Além disso na área em que se pretende construir torres tem nascente de água. Todo o local tem importância arqueológica para a cidade” alertou.
Toka destacou ainda que o destombamento de parte da área é equivocado. “Isso não existe. O que está tombado todo o espaço”, observa.
Outro ponto apresentado na reunião foi o espaço para a construção de um shopping popular em parte da área que irá abrigar o comércio informal (ambulantes) que hoje ocupam o entorno do terminal Central. “Esse projeto envolve diretamente os trabalhadores, sejam os camelôs, seja o público consumidor eles devem ser envolvidos na discussão”, destacou Sônia
Para o vereador Paulo Bufalo, presidente da Comissão de Cultura, o projeto imobiliário representa uma ameaça um dos principais patrimônios da memória de cultura de Campinas e vem sendo apresentado sem discussão com a sociedade e com os Conselhos de representação popular.
A Comissão Permanente de Cultura tem como membros a vereadora Paolla Miguel (PT), Gustavo Petta (PCdoB), Luiz Carlos Rossini (PV) e Morrom Cunha (SDD).